camuflagens para vazios

POR DIANTON E FRAN BERNARDINO



camuflagens para vazios


dianton e fran bernardino
praça do ferreira – 08 de abril de 2011 – sexta-feira
projeto cadaFalso – e$cambau


O homem é um animal de lugares. O que seria do homem sem o lugar? Como o homem ocupa os lugares que ele cria? Criamos a partir deles ou para eles? O lugar também é ou apenas me serve para que eu seja?
Das andanças. Do sentir. Das exclusões que o homem forja como uma necessidade para relacionar-se. Do não bastar-se SER para que os entendimentos ocorram. Da ânsia de arranjar subterfúgios, inventar camuflagens como meio de aceitação. A camuflagem, como uma metáfora do camaleão, nos tira do foco. Ao nos disfarçar, opera por vias de identificação outros canais de comunicação e novamente a conexão com o outro, que são outros, se restabelece. A aceitação se configura[!][?]. A roupa que em princípio era um disfarce, ou talvez uma tentativa de homogeneização visual, torna-se uma estratégia para estabelecer uma conexão com o outro. A roupa tem um caráter de amestração do eu? A roupa tem um viés manipulador como tentativa de deixar o outro pronto para ser visto com olhos docilizados?




Dianton e Fran Bernardino chegam à Praça do Ferreira vindos de lugares distintos. Cada um traz nas mãos uma bolsa repleta de roupas. Nas cinco badaladas das cinco horas da tarde os dois se encontram em frente à coluna da hora. Os personagens colocam-se frente a frente. Olham-se demoradamente. Abandonam as bolsas ao chão e começam a moer o tempo. Caminham em direções contrárias ao redor da coluna da hora.

Caminham. Param próximos às bolsas e vestem roupas sobre as roupas que revestem os seus corpos. Caminham. Trocam de roupa entre si. Caminham. Os personagens se vestem, revestem, travestem, trocam de roupas como se peles fossem numa tentativa [frustrada?] de aceitação do outro. Um movimento repetitivo de transmutarem-se em si e no outro ao longo de um hora. É necessário uma batalha diária entre eus para amainar arestas, adentrar individualidades, permitir que essas individualidades se toquem, se adentrem. Trocar de roupas é ainda uma possibilidade de junto com o outro ‘habitar os espaços da terra como espaços da arte’.


A tarde revestiu-se de noite. O escuro, de luz. Novamente as badaladas do relógio. Seis badaladas para as seis horas da tarde. Novamente, em frente à coluna da hora Dianton e Fran Bernardino se olham demoradamente. No corpo as mesmas roupas da chegada. Apanham as bolsas do chão e partem para seus lugares distintos. E o lugar continua lá, visto apenas como um depositário temporário das imagens produzidas pelos homens? O lugar também é ou apenas me serve para que eu seja? Antes de existir o homem existia o lugar?

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